Reflexões sobre o mau jornalismo e o jornalismo mal
Diz a máxima do jornalismo que quando um cão morde o dono não é notícia. Mas que quando o dono morde o cão, sim.
É muito dente pra pouco cachorro |
A manifestação do vereador Dr Reginaldo na tribuna da Câmara de Vereadores do dia 8 e agosto foi, até aqui, o fato marcante do ano na política de Formiga, menos pelo ineditismo de seu formato, mas muito mais pelo forte conteúdo de denúncia, especialmente (mas não somente) de pressões, achaques e omissões.
Durante os quase 16 minutos de sua fala, Dr Reginaldo, que é psiquiatra, não poupou o uso de adjetivos nem de análises de traços de personalidade e de caráter. Qualificou o jornal Pergaminho, que comemorou 20 anos na semana passada, como exemplo acabado de má imprensa, mercenário, perseguidor, manipulador e megalomaníaco. O vereador havia pedido o uso da Tribuna da Câmara para falar contra o editorial da edição do último sábado, 6 de agosto. Na tribuna, afirmou que o jornal é um veículo interesseiro, parcial e venal. Na semana anterior, o vereador comunista havia desferido qualificações de omissa à toda a imprensa da cidade, por não ter noticiado, por razões diversas, nem uma linha sequer sobre acusações contra determinado delegado formiguense. A conclusão é óbvia: é grave a crise, editorial e de credibilidade, na imprensa formiguense.
Em relação à manifestação de 8 de agosto do vereador poucos se deram conta da gravidade dos disparos efetuados, ora como peça de defesa pessoal, ora como de ataque. Defesa, por entender o vereador que o citado editorial o atacou em sua honra e integridade. Como afirmado, no mínimo aponta para uma crise de credibilidade daquele que se auto intitula o maior jornal do município e põe o dedo na ferida dos questionamentos sobre liberdade de expressão, e seus limites, especialmente nesses tempos em que se discute sobre mecanismos de auto-gestão da imprensa ou em controle social da mídia, para coibir seus excessos.
Como não se tem, ainda, nem uma coisa nem outra no país (e muito menos na cidade das areias brancas) eis que Dr. Reginaldo subiu ao púlpito e, de maneira dura e sem meias palavras, afirmou que não só o diário, mas a imprensa em Formiga está doente. E decretou que os males pelos quais padece a imprensa formiguense se repercutem, também, na sociedade formiguense: “cuidado, Formiga!”.
O vereador levantou também fatos havidos no passado recente para lembrar que, como presidente do Legislativo formiguense foi pressionado a liberar verbas, tratadas por ele jocosamente de “mamadeira”, para o mesmo jornal, garantindo não ter cedido à pressão. E ao não fazê-lo, teria ganhado a inimizade e os ataques do tabloide. Dr Reginaldo relembrou a atuação do o ex-vereador petista Maurílio Leão (2005-2008). “Por que se persegue o vereador Maurílio Leão? Porque, certamente, não fez o jogo”, questionou. Maurílio foi presidente do Legislativo no ano de 2005 e passa até hoje pelos mesmos infortúnios, igualmente gerados pelos mesmos motivos.
Dr Reginaldo questionou também “o interesse dele [jornal] em jogar o Dr Reginaldo contra o Sr Aluísio Veloso [prefeito petista]? Qual o interesse dele em jogar o PCdoB contra o PT e o PSB?” Mais a frente questionou o interesse do jornal em manipular candidatos. Citou que o PCdoB tem participado de reuniões com o PT e o PSB que o jornal não publicou “uma linha” sobre o fato. Mais à frente Dr Reginaldo deixou claro: “eu sou assinante [do jornal], eu pago, eu quero saber!”
Qualquer “foca” pode identificar o ineditismo de tal iniciativa e a evolução para qual ela aponta: um vereador eleito, em pleno exercício do mandato, ocupa a tribuna para fazer denúncias de uma imprensa com sérios desvios de caráter, tribuna essa mais afeita a laudatórias bajulações do que a discursos sobre confrontos de posições políticas.
Não nos esqueçamos: 2012 é ano de eleições municipais. É certo que o sufrágio se dará somente em outubro, mas as eleições, entendidas como um complexo processo político, já começou. E começou de maneira bem “quente”.
Definitivamente: o cão não mordeu o dono. Mas o dono mordeu o cão. E, pela sua reação, doeu muito.
(Texto escrito por Tulio Fonseca no Facebook)
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