sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Drag Queen é coisa de macho


Imagine aquela criatura imensa, com uma roupa estonteantemente bordada com vidrilhos, lantejoulas e paetês tecidos num vaporoso gaze; a cabeça adornada por uma peruca imensa articulada com apliques dourados, acessórios exuberantes misturando luxuosos brincos, anéis, pulseiras, luvas, colares; sapato salto agulha forrado com lamê; um make-up impecável, unhas imensas enfeitadas com uma pintura requintada, e aquela atitude impávida, corajosa e desafiante ao atravessar a rua, sem medo, que só os machos podem ousar. 
Ser Drag Queen é coisa de macho. É o dandismo levado às últimas conseqüências. Os Drag Queens não se vestem como mulheres; vestem-se para as mulheres. Eles fazem a interpretação masculina do feminino imaginário inspirados nas sacerdotisas das Deusas Isis, Astarte e Demeter, e nas divas modernas. 

A atriz Jennifer Saunders, a Edina da série cult Absolutely Fabulous, da BBC conta que quando foi convidada para uma festa em Nova Iorque onde seria homenageada pelo sucesso do seu sitcom na TV americana compreendeu perfeitamente o que é ser uma diva. Ao chegar ao clube aonde aqueles Drags Queens imensos, travestidos de Edina, aguardavam ansiosamente sua chegada, surpreendeu-se ao perceber que eles não conseguiam reconhecê-la enquanto caminhava através da multidão de convidados, para o centro da festa. A diva não era Jennifer Saunders. A Diva era sua personagem Edina. 

No filme Priscilla, A Rainha do Deserto, o roteiro esclarece divinamente a grande diferença entre o masculino e o feminino, entre machos e fêmeas, suas habilidades e fragilidades. Numa cena, num típico bar australiano, a personagem interpretada por Terence Stamp (que se inspirou em Catherine Deneuve para conferir dignidade, luxo e elegância à sua Bernadette) disputa uma queda de braço com uma lésbica extremamente masculinizada em gestos, roupas e atitudes. Foi fatal. O Drag derrubou a mulher imediatamente. A vitória da testosterona foi inevitável. Em outra cena, a fogosa esposa do mecânico destrói um show das drags, ao fazer sua performance arremessando de sua genitália, intermitentes bolinhas de ping-pong para uma platéia excitada ao delírio com aquela dança sensual. Era a técnica do pompoarismo, por aqui chamada popularmente de bezerro. Indisputável! 

Os figurinos, músicas, e todo o enredo de Priscilla revelaram ao mundo o inconsciente coletivo das maravilhosas Drags. Pode ser em Sidney, Nova York, Fortaleza, Londres ou Mossoró, os gestos, figurinos, estilo, modo de falar e repertório musical são absolutamente semelhantes, como se existisse um manual de aplicação. O importante é o realce. Vai chegar o dia em que os livros de estilismo dedicarão um capítulo especial a esta moda Drag, exclusivamente masculina, que realça a cultura pop, a libertinagem, o exagero, a ironia e principalmente o humor. 

Os Drag Queens fazem também, a exemplo dos outros machos, sua dança de sedução com as mulheres. As homenageiam através da paródia, como uma forma de elogio. E as mulheres que conseguiram incorporar um espírito Drag, (muito além da bolinha de ping-pong), se deram muito bem na vida como Anita Ekberg, Mae West, Célia Cruz, Maria Felix, Cher e Carmen Miranda. 

P.S.: Numa seleção de cast para uma peça de Teatro, Aurora Miranda selecionava alguém para interpretar sua irmã Carmen. E, no final, teve que escolher um rapaz que a fazia magistralmente. Na verdade, não é fácil para uma mulher interpretar uma diva. Especialmente Carmen Miranda.

(Por: Ângela Borges - Fonte: http://www.farofadigital.com.br/observatorio_drag.htm)

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